sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Papai Noel existe

A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, ECT - ou simplemente, os Correios - tem ganhado visibilidade no mundo do esporte. Além da natação e esportes aquáticos, é patrocinadora oficial do futsal e do tênis. 

Mas, às vésperas do natal, é outra ação dos Correios que chama atenção, a campanha do Papai Noel. Funciona mais ou menos assim... Toda criança pode escrever sua cartinha pedindo um presente. As cartas são selecionadas por voluntários, podendo ser adotadas por um padrinho ou madrinha. Este ano, o balanço da campanha deu conta de 515.324 cartas cadastradas e 354.858 cartas adotadas. 

Parabéns aos Correios!

Chamo atenção para esta campanha porque, ao saber dela, me deu vontade de reviver o mito do papai noel e escrever minha própria carta ao bom velhinho...
Por que não?

Papai Noel,
Neste natal, já que o mundo não acabou, gostaria que o senhor mudasse um pouco as coisas para 2013, tudo pelo bem do esporte brasileiro... É só um pedido... 
Em 2012, ao lançar o Plano Brasil Medalhas, o governo federal ensaiou condicionar a liberação de recursos públicos apenas para aquelas entidades esportivas que renovassem suas diretorias e limitassem os mandatos de seus dirigentes a apenas uma reeleição.
O barulho e a expectativa foram grandes, mas o governo recuou. O ministro Aldo Rebelo argumentou de que não haveria tempo até dezembro para aprovar na Câmara e no Senado um projeto que garantisse a nova medida.
O resultado... o todo poderoso Nuzman foi reeleito para mais uma mandato e segue a frente do COB até 2016, chegando 19 anos no poder...
E nós que somos da Educação Física temos também o nosso cartola... Jorge Steinhilber, presidente do CONFEF, mais um reeleito em 2012. No posto desde 1998, o ômi não larga o osso, vai a 18 anos no poder...
Igual a eles, tem um tanto de outros, todos mumificados à frente de nossas federações e confederações.
Pô Papai Noel, assim não dá! 
Meu pedido então é que, para 2013, tenhamos democracia, alternância no poder e tranparência na gestão do esporte brasileiro.
E que o projeto do dinheiro público só para quem fizer diferente vire uma realidade, a começar pelo próprio Correios, exigindo mudanças na CBDA, CBFS e CBTênis...
Tô esperando!

Se meu amigo Betinho acredita em duende, também posso crer no ministro e em Papai Noel...

Bom, "brincadeira" a parte, aproveito esta postagem para me despedir de vocês em 2012. O blog vai sair de férias. Volto em 2013 com novas reflexões e conversas sobre o esporte...

É com sentimento fraterno que desejo a todos boas festas, com saúde, felicidade e amizade.

Feliz Natal e um 2013 de alegria e paz para todos nós!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O Fuleco e nós

Quais os maiores pontos críticos do Brasil para a Copa?

* Esta postagem reflete a terceira parte de entrevista que dei a Fernando Caulyt, da redação brasileira do Deutsche Welle


Do meu ponto de vista, os pontos críticos envolvem principalmente a falta de transparência no controle do gastos públicos e a completa ausência de participação da sociedade nas decisões envolvendo a organização do evento.

Diante do volume de recursos públicos mobilizados para a preparação do país receber a Copa – próximo de R$ 33 bilhões conforme a previsão inicial dos organizadores –, ainda que haja coordenação entre os diferentes agentes governamentais, a dispersão das despesas em diferentes e variadas funções, órgãos, programas e ações orçamentárias gera grande dificuldade de acompanhamento e controle.

Ainda que, por meio da CGU, tenha sido criado um espaço específico junto ao Portal da Transparência para reunir e tornar disponíveis informações sobre as ações e despesas do governo federal relativas a Copa, a incompletude, desatualização e imprecisão dos dados não favorece o pleno conhecimento e acompanhamento das informações.

São apresentados apenas dados referentes aos investimentos previstos por área – acomodações, tecnologia, instalações esportivas, meio ambiente, transporte, urbanismo e segurança – e compromissos assumidos por cada uma das esferas de governo. Existem poucos dados de convênios e nenhuma informação sobre as ações de fomento e as ações e programas específicos destinados à organização.           

Ao lado da falta de transparência para o acompanhamento e controle dos gastos, como disse, um outro problema grave é a ausência da participação da sociedade nas decisões sobre a destinação dos recursos, definição de prioridades e debate sobre os projetos previstos.

Concordo com a avaliação da Articulação Nacional de Comitês Populares da Copa de que há uma espécie de descentralização centralizada, isto porque o governo federal chama seus mais variados componentes a participar das decisões, sem, no entanto, promover uma descentralização efetiva através de aberturas institucionais para a participação da sociedade na tomada de decisões. 

O resultado é o pouco compromisso com a população local em detrimento de projetos vinculados a interesses privados

Participação (ou pseudoparticipação), até agora, só para o batismo do FULECO... 
A votação de três meses através da TV Globo em parceira com Coca-Cola teve grande participação do público, comemorou a FIFA. 
O Observatório da Mídia Esportiva - UFSC, já tratou de analisar: "Ele é um tatu-bola - o tatu-bola é uma referência à sua capacidade de se enrolar. O nome escolhido para o mascote é Fuleco - este sim, pasmem, um sinal do que será esta Copa do Mundo. O nome Fuleco vem de FULECAR e se você colocar no dicionário encontrará o seguinte significado: v. intr. (Bras.) perder todo o dinheiro que se leva, ao jogo". (Está no Blog do LaboMídia).
É rir para não chorar... Parece que somos mesmo o país da piada pronta...

A estes dois pontos críticos - falta de transparência e falta de participação - soma-se o desrespeito à soberania nacional, algo que se materializa através das exigências e pressões da FIFA no sentido de adequação da legislação do país aos seus interesses. 

Como disse em postagem anterior - A Copa do Mundo é nossa? -, a singularidade e particularidade da Copa como mercadoria, uma espécie de commoditie cultural que possui cotação e negociabilidade global, garante a sua proprietária, a FIFA, o poder monopolista e vantagem de negociação com os Estados nacionais quando da definição e contratação da sede. 

O que ocorreu com o Estado brasileiro não foi diferente... Um verdadeiro regime de exceção vem sendo implementado. 

Para não se estender, tomemos como exemplo a Lei Geral da Copa, que evidencia algumas das garantias e regras especiais para a realização da Copa no Brasil – proteção às marcas e patentes envolvendo o evento e seus patrocinadores, limitação da meia-entrada para estudantes e idosos, proibição da presença de vendedores ambulantes no entorno das arenas, autorização da venda de bebidas alcoólicas nos estádios etc.

Outros problemas advêm ainda da precarização do trabalho, sobretudo no setor da construção civil e do turismo, das remoções de comunidades de áreas com obras de infraestrutura previstas e áreas de especulação, da criminalização e repressão dos trabalhadores informais e da elitização e mercantilização da cidade, sem falar das agressões ao meio ambiente.  

Agora, do ponto de vista dos organizadores, a obsolescência de nossos aeroportos, os problemas de mobilidade urbana nas subsedes e a segurança são alguns dos gargalos.

Acho que a segurança seja um dos pontos mais críticos. Sobre este tema, já foi abordado em postagem anterior - Polícia para quem precisa -, mas focando a experiência dos Jogos de Londres 2012.

No caso brasileiro, segundo técnicos do BNDES, só no Rio de Janeiro, o governo vai praticamente dobrar o total de verbas de segurança. A partir deste ano de 2012, o Ministério da Justiça prevê investir perto de R$ 1 bilhão. Esses repasses serão feitos por meio do PRONASCI, abrangendo dinheiro para atender a jovens de comunidades carentes, fornecimento de armamento e outros equipamentos, além de tropas adicionais.

As políticas públicas de segurança, além do aparato policial, envolvem ainda programas de manejo social do risco visando a mitigação da exclusão e superação de eventos negativos que possam macular a imagem do país como um país favorável e amigável aos negócios, como um lugar seguro para se morar e visitar, para divertir-se e consumir. 

Enfim... Quais os pontos Críticos do Brasil para a Copa? 

Depende do ponto de vista!

domingo, 16 de dezembro de 2012

Foi Curintia!


Para torcer contra ou a favor, os brasileiros acordaram mais cedo neste domingo... 
Foi uma manhã de tempo suspenso.

E depois que soou o apito final no Japão, até em Brasília se ouviu foguetório e buzinaço.
Contra o Chelsea, deu Corinthians na final do Campeonato Mundial de Clubes da FIFA.

Pelo menos 20 mil estavam lá, entre manos e dekassegues...
Viram de perto o gol do atacante peruano Guerrero.
E o mesmo corintiano que erguia o cartaz "Chelssí: tamo íno!" ou "Vai Curintia!", agora pode gritar...
"Foi Curintia!"

O Juca já noticiou:  

Meus amigos Marcelo e Pedro, palmeirenses... ou os Lino, são-paulinos...
como tantos outros, torceram contra, secaram o timão.

Lula, Sánchez, Ronaldo e todo bando de loucos mais loucos estão... 
Tá certo que São Cássio salvou e São Jorge ajudou, mas o fato é que bateram o leão azul, são campeões!

Eu sou Flamengo, e sempre eu ei de ser...
Mas desde que Sócrates, Wladimir, Casagrande, Zenon e cia. fizeram bonito, ou seja, desde a Democracia Corintiana, não consigo torcer contra.

Minha preocupação é uma só. Depois que a pesquisa do Datafolha divulgou que Flamengo e Corinthians estão tecnicamente  empatados como times de maior torcida no país, temo que a euforia do momento suba a cabeça dos vira-casaca como meu amigo Tatu, desempatando a peleja e ameaçando o nosso título de mais querido do Brasil.

De todo modo...
Salve o Corinthians!

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Polícia para quem precisa


Nesta última quarta-feira, 12/12, através do grupo Avante, organizamos  na Faculdade de Educação Física da UnB um encontro com a professora Heloisa Reis, da Unicamp.

Heloisa foi recentemente nomeada pelo Ministério do Esporte para compor a Comissão Especial de Estudos encarregada de apresentar projeto de regulamentação do Estatuto do Torcedor. Assim, aproveitando um espaço em sua agenda de trabalho aqui em Brasília, tratamos de convidá-la para um debate sobre o tema  "Esporte e violência: experiência internacional e os preparativos para a Copa de 2014 e Jogos Rio 2016". 

Vale lembrar que a segurança - e, por conseguinte, a violência - é um dos temas mais delicados na organização de megaeventos esportivos. Por isso, a oportunidade deste debate foi bastante significativa para nós, considerando que alguns colegas de nosso grupo de pesquisa têm dedicado seus estudos de IC, mestrado e doutorado ao tema.

A convite da Loughborough University, a professora Heloisa Reis integrou uma pesquisa sobre o trabalho do policiamento durante os Jogos de Londres 2012. 

Neste cenário, é importante destacar que o Parque Olímpico de Londres foi construído em Stratford, na East London, uma das regiões mais pobres da capital britânica, habitada principalmente por imigrantes. E esta situação vem de longa data...

O leste de Londres recebe ondas de imigração desde o século XVII e foi chão para os estudos de Engels sobre o mundo urbano miserável produzido pelo capitalismo. Em A situação da classe operária na Inglaterra, escrito em 1845, o parceiro intelectual de Marx já denunciava o modo de vida degradante a que estava sujeita a classe trabalhadora nos grandes centros industriais da Grã-Bretanha.

A região foi também um dos principais palcos dos protestos e confrontos que abalaram a Inglaterra em agosto de 2011, um ano antes dos Jogos. O estopim foi a morte de Mark Duggan, um jovem negro de 29 anos vítima da violência policial. Os protestos duraram dias, envolvendo várias regiões de Londres e se espalhando por outras cidades inglesas. Lojas foram saqueadas, prédios incendiados, mais de mil pessoas foram presas e cinco foram mortas.

É importante resgatar esta história porque a segurança passou a ser um ponto de honra para os organizadores dos Jogos e para a própria polícia inglesa. Isto pôde ser constatado por Heloisa e pelos pesquisadores da Loughborough University.

Análises dão conta de que Londres 2012 foi a Olimpíada do Medo. 48 mil policiais e 13,5 mil soldados foram mobilizados, além da instalação de câmaras de vigilância por toda cidade e um verdadeiro aparato de guerra colocado de prontidão, tudo sob o pretexto de cuidar da segurança. Ocorre que a definição das questões de segurança incluiu desde o terrorismo até protestos pacíficos, ações sindicais, camelôs vendendo produtos nas ruas, ou seja, o banimento de qualquer presença corporativa estranha à marca olímpica.

Tudo isto foi observado, descrito e analisado por Heloisa. E sua exposição ainda colocou em relevo três situações.
  1. A criminalização da juventude pobre e negra, pois foi esta a parcela da população o principal alvo da atenção e das abordagens policiais;
  2. O toque de recolher, o que se deu a partir da criação de zonas de dispersão com o intuito de facilitar abordagens e a remoção de pessoas socialmente indesejadas nos arredores do Parque Olímpico;
  3. As duas faces da polícia, a polícia comunitária, amigável e receptível aos turistas, e a polícia ostensiva, truculenta e hostil com os indesejados. 
Já sobre os preparativos de segurança envolvendo a organização da Copa de 2014 e dos Jogos Rio 2016 ela avalia que as coisas não vão bem. Não há integração das polícias e informação sobre realização de treinamentos ou padronização das condutas prometidas pelo Ministério da Justiça. Isto sem falar do distanciamento da universidade. Temos inúmeras pesquisas sobre policiamento e segurança em espetáculos esportivos e é tudo ignorado pelo poder público, lamenta a pesquisadora.

Outro assunto que apareceu durante o debate foi a violência no futebol, dada a experiência de pesquisa que Heloisa tem também sobre este tema.

E como o dia era de jogo do Corinthians versus o Al Ahly do Egito disputando vaga na final do Campeonato Mundial de Clubes da Fifa, a piada do mometo era a de que São Paulo estava mais segura porque os manos da fiel tinham ido ao Japão acompanhar o timão.

Heloisa tratou de desmitificar a relação que normalmente se faz entre torcidas organizadas e violência nos estádios. A partir de uma pesquisa que realizou, descobriu que o associativismo organizado em torno das torcidas, em grande parte, se dá entre jovens com bom nível educacional e de famílias estruturadas. A violência no futebol existe, mas não é exclusiva das torcidas. Está presente no espetáculo esportivo como um todo. É preciso colocar freio à criminalização das torcidas organizadas, advertiu.
 
O torcedor organizado não é bandido. Ele trabalha (a média de desemprego nas torcidas é de 2,8%, em comparação com os 8,1% da média brasileira), mora com os pais (86,8%) e tem um significativo grau de instrução (80,8% possui de 10 a 12 anos de escolaridade). 
Para saber mais, ver: REIS, Heloisa. Futebol e violência. Campinas: Autores Associados, 2006. 

Em nome do Avante, fica o meu agradecimento a Heloisa por sua disponibilidade e contribuição.

Obrigado!

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A Copa do Mundo é nossa?





Quais as vantagens do Brasil receber a Copa do Mundo? 

* Esta postagem reflete a segunda parte da entrevista que dei a Fernando Caulyt, da redação brasileira do Deutsche Welle


A convergência e a coalizão de interesses em prol da Copa no Brasil, em grande medida, definiram-se a partir do endosso governamental

Alguns falam num acordo entre Blatter e Lula, acordo que envolveria ainda Havelange e Teixeira. Acordo óbvio que houve, e a prova disso são as garantias governamentais dadas pelo governo brasileiro e caderno de encargos.

As negociações para este acordo, no entanto, foram longas... 

Talvez fosse mais correto falar em barganha, com intermináveis exigências apresentadas pelos donos da Copa. Desde que a CONMEBOL, em 2003, anunciou Argentina, Brasil e Colômbia como candidatas, passando pela não oficialização da candidatura destes dois países e anuncio do Brasil como único candidato em 2006, até a confirmação pela FIFA de que seríamos mesmo a sede da Copa, o que ocorreu em 2007, parecem ter havido várias conversações.
 
O pivô das polêmicas sempre foi a participação do fundo público no financiamento da festa, em especial, das  obras de infraestrutura para receber os torcedores e da construção de estádios que atendessem o chamado padrão FIFA

O fato é que a Copa do Mundo de Futebol, isto é, a Copa da FIFA, como espetáculo global, foi transformada numa espécie de commodities, um tipo especial de mercadoria cultural que possui cotação e negociabilidade global. Assim, a singularidade e particularidade da Copa, identificada aqui como commodities, garante a sua proprietária, a FIFA, o poder monopolista e vantagem de negociação com os Estados nacionais quando da definição e contratação da sede.

E o Brasil resolveu pagar caro!
Em grandes números, serão investidos R$ 33 bilhões em infraestrutura. 

Na visão governista, a Copa pode se constituir como um catalisador de obras e investimentos, dinamizando a economia e fortalecendo a posição do país no mercado mundial. 

Acredita-se que a a Copa deverá agregar R$ 183 bilhões ao PIB brasileiro até 2019. Além do impulso ao desenvolvimento nacional e economias locais, há a crença de que as inovações a partir da Copa tenham ainda o potencial de fixarem uma imagem urbana física e socialmente atraente para as doze subsedes, a imagem de cidades adaptadas à finalidade competitiva, aptas a receberem novos fluxos de investimentos e especulação, de produção e consumo, enfim, cidades ajustadas às atuais formas e caminhos de acumulação. 

O governo, portanto, não vem economizando na preparação do país para receber a Copa. Garante as grandes obras de infraestrutura, opera na concessão de crédito aos grupos empresariais envolvidos com a preparação da festa, o que envolve a construção das arenas esportivas, expansão da rede hoteleira e serviços turísticos, incremento em tecnologias de informação e telecomunicações etc.

A despeito dos legados prometidos, que envolvem a transformação das cidades sede, a inserção social, a educação e o esporte, o que embala mesmo a organização da Copa no Brasil, menos que necessidades sociais, são os interesses pró-mercado voltados à dinamização da economia.

Por sua vez, quem parece mais ganhar é o par FIFA-CBF.

Para se ter uma idéia, os números da Copa de 2010 mostram que em 27 dias dias de competição, com audiência diária de 118 milhões de telespectadores e público médio por jogo de 49 mil torcedores, rendeu US$ 3,65 bilhões aos cofres da FIFA. Para a África do Sul, sem contar os estádios fantasmas, ficou um prejuízo de US$ 1,1 bilhão.

Agora quando digo que quem ganha com a Copa é a FIFA e a CBF, estou dizendo também que quem ganha é a cartolagem do futebol.  

Leiam o livro Jogo Sujo de Andrew Jennings ou visitem seu blog que logo terão uma idéia do que ocorre nos bastidores da FIFA.

Quanto à CBF, acobertada pelo poder político-simbólico que detém, a dona da bola opera a economia do futebol nacional como uma verdadeira "caixa preta". Em 2001 tivemos a CPI CBF-Nike cujo relatório, mesmo que rejeitado pela bancada da bola, já sinalizava para os casos de propina que vieram mais tarde a derrubar Havelange e Teixeira. Agora é a vez de Marin... por iniciativa do Deputado Romário foi pedida uma uma CPI para investigar os as contas da CBF, em especial, o contrato com a TAM. Em outros termos, caso não seja barrada, agora é vez da CPI CBF-TAM

Isto para dizer que o simbolismo de uma Copa no Brasil - Yes, We Cão! - talvez não valha a pena. O governo aposta também no ganho objetivo, o impulso ao desenvolvimento. Se o país ganhará, não sei ao certo. Com certeza, já está perdendo a população pobre cujos direitos de moradia e trabalho vêm sendo violados, conforme revela o dossiê dos Comitês Populares da Copa

Quem ganha então? 

Além, é claro, das entidades de administração do futebol, a cartolagem e cia, ganham também os setores empresariais ligados à construção civil, ao empreendimentos imobiliários, aos servicos de turismo e hotelaria, às coorporações da mídia, às tecnologias de informação e comunicação etc.

Em resumo...  
o custo é público, para todos...
as vantagens, ao que tudo indica, para poucos.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Espaços de fazer


Na última quinta-feira, 6/12, a convite de uma amiga de longa data, Simone Rechia, tive a oportunidade de participar, em Curitiba, do Ciclo de debates "Lazer, esporte e cidade: o legado ambiental dos megaeventos esportivos". 

Desde que comecei a me dedicar, sob o ponto de vista da pesquisa, ao tema dos megaeventos, tenho circulado por variados espaços para discutir o tema.

Este foi especial.. foi um evento modesto em termos de abrangência e participação, mas altamente qualificado considerando sua proposta, uma debate voltado especialmente para os professores, bolsistas de IC, petianos, mestrandos e doutorandos do GEPLEC - PET / UFPR.

Sua programação, inteiramente dedicada ao tema dos megaeventos, além de um momento de síntese final, organizou-se a partir de quatro eixos de discussão:
  1. Organização e estrutura do Comitê Organizador Rio 2016,
  2. Influência dos megaeventos na dinâmica das cidades,
  3. Como os Jogos estão impactando as políticas de esporte e lazer; 
  4. Impactos sociais dos megaeventos no contexto nacional e local.
Como observador atento, aprendi muito com os colegas que compartilharam  comigo o lugar de expositores, Iverson Ladewig do CoRIO 2016, Fábio Duarte do PPG em Gestão Urbana da PUC-PR e Andréa Braga do Comitê Popular da Copa de Curitiba.

Mas o melhor veio dos meus vizinhos de platéia...

Os que, pela manhã, demonstraram entusiasmo com a possibilidade de emprego num comitê organizador cheio de professores de educação física e com muitas vagas ainda em aberto foram os mesmos que, pela tarde, se indignaram com o relatório apresentado sobre a violação de direitos pela organização dos megaeventos.

Mais indignado ainda ficou um dentre os meus vizinhos ao descobrir que sua casa estava dentro da "zona de exclusão" de 2 km no entorno da Arena da Baixada. Ainda não sabia que a Lei Geral da Copa vai mexer com seu cotidiano e de tantos outros curitibanos... menos mal para esses, pois para outra parte dos curitibanos, as mais de 2 mil famílias que serão removidas por obras da Copa, é a vida que será mexida, posta de cabeça para baixo.

Como já disse em postagem anterior, os megaeventos são, ao mesmo tempo, sonho e pesadelo...

Que bom que tenhamos movimentos organizados como os Comitês Populares da Copa em defesa dos direitos humanos e grupos de pesquisa como o GEPLEC buscando fazer mediação da formação e do fazer científico com o contraditório em processo que envolve a organização dos megaeventos.

Termino esta postagem com as palavras da coordenadora do ciclo, Simone, que, citando Guimarães Rosa, não poderia ter sido mais sábia em sua síntese final do evento...

"Entre o sol mais brilhante e a realidade mais cruel, existe o espaço do fazer."

Parabéns e muito obrigado a todos do GEPLEC por terem me dado a oportunidade de compartilhar com vocês este espaço de fazer.   

Até a próxima!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Adeus Niemeyer


Em entrevista ao portal IG, o ministro do Esporte, Aldo Rabelo, ao comentar a atuação política de Oscar Niemeyer, chamou atenção para o fato de que o militante do PCB fez de tudo como arquiteto, de igreja a sambódromo, avenidas, museus e até palácios, só não fez um estádio de futebol. Em 1941, chegou a concorrer com um projeto para o Maracanã, mas não foi escolhido.

Não disse porém o ministro que, mesmo organizando a Copa de 2014, dentre tantas outras oportunidades, perdemos mais esta, a oportunidade de ver construída a "Arena Niemeyer". 

Seria um belo e precioso legado...
um presente para o país de um de seus filhos mais ilustres.

Fica o consolo de que poderemos ver em breve, no centro histórico de Santos, a inauguração de uma de suas obras ainda inconclusas, o Museu Pelé. O museu irá abrigar mais de três mil peças, incluindo uma réplica da taça da Copa de 1970, a Taça Julis Rime. 

Ganha a memória do futebol...
um presente dele, o Niemeyer, torcedor do tricolor carioca, para o nosso mais ilustre jogador. 

Pelé disse: 

"Um dia vieram me dizer que o Niemeyer é o Pelé da arquitetura. Nada disso. Eu é que sou o Niemeyer do futebol."

O mundo do esporte também se despede deste legendário arquiteto, um apaixonado pelo futebol, um incansável militante, tricolor e comunista, uma figura da maior grandeza, um homem cujos traços e idéias sempre estiveram ao lado do progresso e da humanidade.

Adeus Niemeyer
1907-2012



terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Bloguemos!


Ontem completei minha primeira semana de blogueiro, e já deu para sentir o potencial desta TIC... 

Dizem os sites especializados que um blog de sucesso tem lá os seus 50 mil acessos diários. Se chegar neste número em um ano, já estarei bem feliz... Menos que a quantidade, importa para mim a qualidade da interação e participação com vocês. 

Neste sentido, confesso-me já surpreendido, pois tenho recebido inúmeras mensagens de incentivo, e também mensagens de crítica e sugestões. 

Ontem mesmo, recebi aqui em Brasília uma aula sobre blog com meu amigo César Leiro, um verdadeiro doutor no tema, coordenador do Grupo Mel - Mídia Educação e Lazer da UFBA.

Recebi também algumas sugestões de link para os blogs que recomendo, como o OmniCorpus pilotado por meu amigo Tatá da UFMG, e o Ludopédio, especializado em futebol. Estes são, com certeza, blogs que recomendo. Mas a rede de blogs que desejo inicialmente formar é a de blogs pessoais focados no tema do esporte. De todo modo, seguirei em diálogo com blogs das mais variadas matizes, enfoques e orientações... sem preconceitos. 
  
Tudo isto para dizer que a interação tá legal, mas vai  aqui um pedido muito especial...
bloguemos! 

Também sou um iniciante na blogosfera, portanto, ainda sou tradicional, muito preso a comunicação via e-mail. E é através de mensagens enviadas por e-mail que os comentários sobre o blog tem chegado para mim. 

O convite que faço a vocês é para que usem o próprio blog. Logo abaixo de cada post, tem lá um espaço e ferramenta de comentário. Dê sua sugestão, faça sua pergunta,  demarque sua discordância, sugira novos temas para discussão, registre sua critica e faça também seu elogio... não se acanhe, use e abuse dos comentários!

Queria ainda dizer que o que me surpreendeu também foi a propagação do blog mundo afora, o que me levou a disponibilizar uma ferramenta de tradução para os visitantes do estrangeiro.

A ferramenta de estatística a qual tenho acesso permite localizar o país de origem das visualizações do blog, e as visitas, claro que na sua maioria bazucas, vem também da Argentina, Alemanha, Reino Unido, Israel, Espanha, Estados Unidos, Portugal, Canadá e Colômbia. 

Como diria meu amigo Guego lá da UFG, um entendido das TICs, o jibizinho eletrônico já tá internacional!

domingo, 2 de dezembro de 2012

Yes, We Cão!

   

A Copa no Brasil é um sonho ou pesadelo? Há insatisfação dos brasileiros em relação ao evento? 

* Esta postagem reflete a primeira parte da entrevista que dei a Fernando Caulyt, da redação brasileira do Deutsche Welle


No infeliz episódio do "chute no traseiro", pelo menos uma declaração de Jérôme Valke, secretário geral da FIFA, talvez seja certa, a de que, para o Brasil, é mais importante ganhar a Copa do que organizá-la.

A Copa é ansiosamente esperada por todos nós brasileiros, seja onde for... no Japão, Coréia do Sul, Alemanha ou África do Sul. A cada quatro anos, o que se vive no país em dia de jogo da Seleção é o que a antropóloga Simone Guedes chama de “tempo suspenso”.

Sopra o apito, nada mais fora das quatro linhas importa e nosso cotidiano se vê interditado pelos 90 minutos de bola rolando, é o que acontece. O Brasil quase todo para! Esta paixão pela Seleção acaba por se desdobrar num sentimento de orgulho cívico ante a possibilidade de uma Copa no Brasil.

Tal sentimento se expressa na fala de Lula ao comemorar a conquista brasileira de sediar a Copa FIFA de 2014 e também os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016. Para o então presidente, o Brasil ganhou sua cidadania internacional, deixando de ser visto como um país de segunda classe.

Estamos superando nosso "complexo de vira-lata" rodriguiano, foi este o tom das análises em relação a fala do presidente...

Yes, we cão!

Queremos ganhar a Copa e queremos também a Copa no Brasil. Sim, existe um amplo apoio popular à realização da Copa no país, ainda que, conforme demonstram as pesquisas de opinião, este apoio cai quando são "manchetizadas" notícias de atraso nas obras e aumento dos gastos públicos envolvendo a organização do evento.

Vejamos...

  • Uma pesquisa realizada pelo IBOPE em 2011, revelou que, em relação ao Brasil sediar a Copa de 2014, 8% dos brasileiros se diz muito otimistas, 47% otimistas, 35% indiferentes, 1% pessimistas e 4% não responderam.
  • Um outro levantamento feito pela Paraná Pesquisas mostra que a participação da cidade de Curitiba como subsede da Copa teve o aval da população diminuído de 84,3% em 2010 para 66,5% em 2011. Um dos motivos identificados para a diminuição do apoio foi o atraso das obras de reforma da Arena da Baixada e a morosidade dos demais projetos urbanísticos de preparação da cidade.

Há, então, satisfação ou insatisfação dos brasileiros em relação ao evento? Penso que a satisfação está presente. Queremos ganhar e podemos organizar a Copa. Este é o sentimento que predomina. É difícil encontrar um brasileiro que não deseje ver seu país vitorioso, seja pelo feito esportivo ou por sua capacidade de auto-determinar-se como nação.

Por outro lado, isto não quer dizer que o brasileiro também não esteja atento ao desenrolar dos acontecimentos, mas, em grande medida, influenciado pelo consumo das notícias.
 
Neste cenário, o comportamento da mídia nacional, que é decisivo na variação positiva ou negativa do apoio popular ao evento, é pra lá de ambíguo. De um lado, aplaude a iniciativa tendo em vista as oportunidades de negócio geradas e, de outro, questiona a participação governamental na organização do evento.

Há na crítica, uma questão de fundo, relativa ao papel jogado pelo Estado e pelo governo do PT – Lula e Dilma – à frente do projeto.

O que quero dizer é que, sob o ponto de vista do mercado livre e festivo, a Copa representa para o mundo dos negócios, incluso para as grandes corporações da mídia nacional, grandes possibilidades de lucro.

Lembremos que a Globo foi escolhida pela FIFA para a transmissão dos 64 jogos da Copa no Brasil e que os valores dessa transação não foram divulgados.

Ocorre que, sob a lógica dos negócios, ótimo que a Copa seja no Brasil. Mas quando se trata do projeto político e o modelo de desenvolvimento ao qual a organização dos megaeventos estão articulados, aí a grande mídia sai em defesa dos princípios do gerencialismo estatal e ajuste fiscal, e sua crítica dirigida ao governo pela organização e planejamento do evento é contundente.

De todo modo, o espetáculo não pode parar...

Ontem mesmo, estavam todos lá:
Dilma, Aldo, Marin, Blatter, Valke, Felipão, Parreira, Cafú, Cafusa, Fuleco...

O fato é que os elementos de marketing mobilizados pelos organizadores vêm funcionando como forte instrumento político para legitimação e construção de consensos e orgulho cívico em torno do projeto, este último, apesar da oscilação da opinião pública, apresentado como expressão da própria vontade geral da nação.


Os megaeventos esportivos são vistos como uma espécie de catalisador de obras e investimentos dinamizando a economia. Ainda que superestimados, os impactos sociais e econômicos esperados se articulam ao modelo de desenvolvimento idealizado pelo governo liderado pelo PT, o “neodesenvolvimentismo”. Trata-se de um projeto pautado na manutenção da estabilidade e ação distributiva do Estado, este último, um Estado mais forte, induzindo o crescimento e coordenando os investimentos no país a partir de estratégias de planejamento de longo prazo. Em linhas gerais, o “neodesenvolvimentismo” pode ser explicado a partir de três eixos: a aliança com o capital nacional pela qual, via BNDES, o governo empenha-se em fortalecer as grandes empresas nacionais; o investimento, através do PAC; e, a recuperação da capacidade do Estado de prover políticas e programas sociais de inclusão e redução da pobreza, a exemplo do Bolsa Família. Na relação deste modelo com a Copa de 2014, enquanto o Estado investidor garante as grandes obras de infraestrutura, o Estado financiador opera na concessão de crédito aos grupos empresariais envolvidos com a construção das arenas esportivas, expansão da rede hoteleira e serviços turísticos, incremento em tecnologias de informação e telecomunicações, dentre outros setores. Por sua vez, o Estado social cuida do manejo social do risco, isto é, das políticas sociais de caráter pacificador.


Minha opinião:
Nem sonho nem pesadelo, a Copa no Brasil é o contraditório em processo... sonho e pesadelo... pesadelo e sonho... sonho e pesadelo...