quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

3 pontos


Escrevo este post por sugestão do Marcos Paulo, um literato que é também licenciado e mestre em educação física, ex-aluno em nosso curso da UnB. Ainda consternado como todos os brasileiros pela tragédia em Santa Maria-RS, recebi dele a notícia do falecimento de Ary Vidal, um dos nomes mais importantes do nosso basquete.

Não se trata propriamente de uma homenagem ao treinador, mas de um pequeno registro sobre o momento que vive o basquete no país.

O primeiro ponto que quero abordar diz respeito a dois grandes feitos do ex-técnico da seleção brasileira masculina de basquete. Foi ele quem comandou o time no Pan de Indianápolis em 1987, quando conquistamos o ouro ao vencer os Estados Unidos na final. Eu, particularmente, um adolescente à época, ainda guardo esta partida na memória. Os especialistas dizem que foi a maior façanha do nosso basquete.

Mas Ary é conhecido também por sua ousadia, pois foi o primeiro técnico a tirar proveito da linha dos três. Este é um outro feito seu. Com um estilo de jogo agressivo, treinava seu time com foco na velocidade e arremesso. Quando todos tinham medo do chute dos três, Ary, que era também um ex-estatístico do IBGE, fazia com que a seleção arremessasse 20% a mais de bolas do que os adversários. Foi ele quem fez santa a mão santa de Oscar. Por estes dentre outros feitos é considerado um gênio do basquete.

Agora, o segundo ponto de que quero falar, diz respeito ao recente socorro do Ministério do Esporte à Confederação Brasileira de Basquete - CBB.

Diante da perda de receita em função da redução do valor das contas de luz, a Eletrobras optou por reduzir seus investimentos em patrocínios esportivos. A estatal, que vinha repassando R$ 13 milhões por ano à CBB, cortou pela metade este valor, fixando em R$ 7,5 milhões o patrocínio para a temporada de 2013. Mas o Secretário Nacional de Esporte de Alto Rendimento, Ricardo Leyser, já se comprometeu em buscar uma outra estatal para apadrinhar o basquete nacional.

Enquanto outra estatal não vem, o próprio Ministério do Esporte liberou R$ 14,8 milhões para a entidade. 

"Estou muito feliz. Eu nunca vi um comprometimento tão grande do ministério com as confederações como nós estamos vendo agora. O socorro ajuda, mas não resolve. Se há um monte de empresas estatais patrocinando as confederações, alguma tem que patrocinar a gente", disse Hortência, diretora de seleções femininas da CBB. 

Tanto o Blog do Cruz como o Blog Bala na Cesta criticaram duramente o socorro. Denunciam que, mesmo em época de vacas gordas, a entidade já vinha se endividando, e sem evoluir em resultados.   

É aí que entro no terceiro ponto, relativo à disputa pela direção da Confederação.

O atual presidente da CBB, Carlos Nunes terá um opositor na eleição convocada para 7 de março próximo. Será Gerasime Bozikis, o Grego, que presidiu a entidade por três gestões, de 1997 a 2008, tendo Nunes como seu aliado. 

Nunes assumiu o comando em março de 2009 e, logo em seguida, mudou o estatuto para que houvesse apenas uma reeleição. Mas isto não o livra das criticas... Falta transparência e competência a ambos candidatos. Estamos entre o "diabo" e o "coisa ruim", é mais ou menos assim que resume o Blog Bala na Cesta.  

O fato é que Nunes está em campanha com o dinheiro do Ministério do Esporte. Em entrevista de outubro de 2012, já contando com o socorro da pasta, dizia-se tranquilo em relação ao apoio das federações e prometia ouro olímpico para 2016. 

Vale dizer que a CBB cuida basicamente das seleções, arbitragem, formação de treinadores e justiça esportiva, apenas chancelando o campeonato de clubes, o Novo Basquete Brasil - NBB, organizado pela Liga Nacional de Basquete - LNB e Rede Globo.

Para a LNB, o Ministério do Esporte liberou  R$ 5 milhões para as duas próximas edições da Liga de Desenvolvimento de Basquete - LDB, torneio sub-22 visto como um celeiro de novos talentos para o NBB. 

A partir destes três pontos, apresento duas conclusões...

A primeira é a de que as verbas públicas direcionadas ao basquete estão a serviço de interesses privados de ordem eleitoral e mercantil.

No caso da CBB, fica a lição de que a limitação do mandato, por si só, não garante a alternância do poder, muito menos a democratização da entidade. 

No caso da LDB, o investimento na chamada base do basquete - isto é, no sub-22 -, pode até contribuir para o desenvolvimento do NBB, mas não garante a democratização do acesso à modalidade. No Brasil, a prática esportiva é restrita aos jovens ricos e o basquete é acessível para apenas 1% dos jovens.

É preciso entender que o esporte é um direito constitucional e, como tal, tem de ter seu acesso garantido pelo Estado. O financiamento público deve ser direcionado à dimensão recreativa do esporte, voltado para mais pessoas e não para mais medalhas.

A segunda conclusão é justamente sobre as medalhas. E aí, é gente do basquete quem fala, Magic Paula:

"Não dá mais para dizer que a gente não vence porque não tem dinheiro. A gente não chega porque não se preparou direito, não preparou as gerações". 

Adeus Ary.
(1935-2013)

domingo, 27 de janeiro de 2013

Copa pra quem?

As manifestações populares envolvendo a realização da Copa tendem a aumentar com a proximidade do evento ou você acredita que o brasileiro não está interessado na questão? 

* Esta postagem reflete a quarta e última parte de entrevista que dei a Fernando Caulyt, da redação brasileira do Deutsche Welle


As manifestações populares envolvendo a realização da Copa no Brasil vêm sendo protagonizadas, principalmente, pela Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa, um movimento descentralizado a partir de comitês locais organizados nas doze cidades-sede.

A composição de cada comitê é reveladora dos segmentos da sociedade que estão mobilizados em torno do tema, em sua maioria, aqueles que vêm sendo atingidos pelas obras e ações de preparação para o evento, ou seja, as vítimas das violações de direitos promovidas em nome dos megaeventos.  

No Rio de Janeiro, o Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas é um exemplo. Está organizado a partir da participação e mobilização de um conjunto de entidades, movimentos e lideranças - Associação dos Geógrafos Brasileiros, CORECON-RJ, CMP, Conselho Popular, ETTERN IPPUR/UFRJ, FAM Rio, FASE Rio de Janeiro, Frente Nacional dos Torcedores, IBASE, MNLM, MTST, MUCA, Núcleo Frei Tito, Observatório das Metrópoles, Ocupação Quilombo das Guerreiras, PACS, Redes da Maré, Reunindo Retalhos, Universitários da UFRJ, Vila Autódramo.

Mas, ainda que seja amplo e diverso, avalio que o movimento tem a sua centralidade na luta pela moradia. Segundo o dossiê Megaeventos e Violações de Direitos Humanos, estima-se o despejo e remoção de aproximadamente 170 mil pessoas nas doze cidades-sedes. 

Por sua vez, os setores ligados à comunidade universitária e acadêmica - em especial, aqueles ligados ao urbanismo - conferem enorme potencial de ressonância às manifestações e mobilizações, com a promoção de debates, sistematização de documentos, produção de mídias etc

Isto sem falar da proximidade e ligações que a os comitês possuem com partidos políticos da esquerda, pautando este debate com mais força nos espaços institucionais da política brasileira.

A própria candidatura do deputado estadual Marcelo Freixo pelo PSOL foi um exemplo. Pautou a organização dos megaeventos nas eleições municipais do Rio, polarizando a coalizão liderada pelo prefeito Eduardo Paes, cuja campanha esteve fortemente ancorada nas realizações envolvendo a preparação da cidade para a Copa e os Jogos Olímpicos.  

Quero dizer com isso que a base dos comitês populares da Copa sustenta-se a partir de uma aliança entre luta pela moradia e universidade, marcada ainda pela ação e influência de quadros partidários, em especial, do PSOL, PSTU e PCB.       

Para ganhar adesão, tal movimento encontra limites... Por mais que exista uma série de violações acontecendo contra os brasileiros mais pobres e vulneráveis, o brasileiro que integra a massa popular em emergência - ou a "nova classe média" da qual fala Marcio Pochmann - tem uma cabeça mercadológica, individualista e conformista. Em outros termos, o "brasileiro comum" não vai se engajar em movimentos pró, contra ou críticos a Copa.

Mas a ausência de movimentos de massa não significa indiferença ao que está acontecendo.

Segundo pesquisa do IBOPE de 2011, na percepção da população, o Governo Federal será o principal beneficiado com o a Copa de 2014, seguido de empresários do turismo e redes hoteleiras. Depois são apontadas as prefeituras das cidades-sede, governos estaduais, comerciantes em geral, empresários da construção civil, times de futebol, CBF e FIFA como os principais beneficiados. E se sabe também que os mais prejudicados com o evento serão os segmentos mais pobres das cidades-sede. 

Esta percepção que, em alguma medida, reflete uma leitura crítica, talvez cause constrangimento eleitoral aos partidos governistas nos pleitos pós-Copa e Jogos Olímpicos, quando melhor poderá se fazer o balanço dos legados prometidos.

Tudo isso para dizer que as manifestações vão sim aumentar, mas tendem a ser pontuais e protagonizadas, sobretudo, pela população atingida e pelos setores politicamente organizados da sociedade.

Neste cenário, alguns dos movimentos de atingidos pelos megaeventos tem conseguido resistir, sensibilizando a opinião pública, como é o caso da comunidade da Vila Autódromo, ameaçada de remoção, e os índios da Aldeia Maracanã, que lutam contra a demolição do antigo prédio do Museu do Indio.

Ainda que pontuais, a repercussão e visibilidade de tais movimentos têm causado embaraço ao Governo do Rio e à coalizão pró-megaeventos para seguir com seus projetos.

Assim, mesmo que não ganhe as massas, as manifestações populares envolvendo a realização da Copa ainda vão dar o que falar. Agora, se avançarem o sinal, colocando em risco a imagem e as marcas da Copa, desafiando frontalmente os interesses econômicos em jogo, as forças repressivas vão ser bastante intolerantes. 

Foi o que já aconteceu em Porto Alegre, numa manifestação organizada em outubro do ano passado. Bastou a ameaça a um boneco gigante do Fuleco que a polícia reprimiu violentamente os manifestantes. Derrubaram o boneco, mas vinte foram parar no hospital. 

Depois disso, um novo ataque ao Fuleco ocorreu aqui em Brasília. O tatu-bola foi esfaqueado na calada da noite. Agora o boneco só volta a aparecer em área particular e com segurança reforçada.

Apresento o caso do Fuleco apenas para ilustrar como as forças de segurança vão atuar na Copa e Jogos Olímpicos... Aliás, já abordei este tema em Polícia para quem precisa.

Afora a repressão, as manifestações e protestos contra a Copa terão de enfrentar também a blindagem da mídia e o cerco das zonas de exclusão previstas no contrato FIFA. Enfim, chutar o traseiro do Fuleco ou do Jérôme Valcke não vai ser fácil.

De todo modo, faço coro a todas as pautas e agenda dos comitês populares da Copa - paticipação, transparência, respeito e ampliação aos direitos, despejo zero, legado e políticas sociais de esporte e lazer etc.

Não à violação de direitos!
Sim ao direito à moradia, ao direito à cidade, ao direito ao esporte e à gestão democrática!

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Festa da ciência


O CONBRACE, como costumamos chamar o Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte, terá sua 18ª edição, junta ao CONICE, Congresso Internacional de Ciências do Esporte, realizada em Brasília, de 2 a 7 de agosto próximo. 

Tive a honra de presidir o Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte, o CBCE, por quatro anos, contribuindo de perto com a organização dos CONBRACE´s de Recife, em 2007, e Salvador, em 2009.

Antes disso, vinha militando academicamente no CBCE a partir de outras instâncias, como a Secretaria Estadual de Goiás, o Comitê Científico do GTT Lazer e Sociedade e do GTT Políticas Públicas.

O CBCE é uma das poucas entidades do mundo esportivo que preza pela participação, democracia e alternância do poder. 

Assim, já se passaram outros quatro anos desde que me afastei dos debates e ações envolvendo a direção e gestão de nossa entidade. Mas, agora, como docente da UnB, não poderia deixar de me engajar junto com toda turma do CBCE-DF na organização do XVIII CONBRACE e V CONICE.

O CONBRACE sempre representou um salto adiante na história do CBCE, agregando ao seu patrimônio político, acadêmico e científico novas e importantes conquistas.

Nesta edição do evento, o debate em torno da temática Identidade da Educação Física e Ciências do Esporte em tempos de megaeventos buscará atualizar nossas discussões e avaliação sobre os desdobramentos e impactos das transformações contemporâneas sobre a identidade da área.

Serão mesas, mostras e, como nas últimas edições, centenas de trabalhos de pesquisadores e estudantes de todo país a serem apresentados, qualificando cada vez mais o CBCE como pólo aglutinador e impulsionador do desenvolvimento da Educação Física e Ciências do Esporte.

Está prevista uma extensa programação que conta ainda com a realização de painéis, fóruns, encontros, reuniões de interesse, além, é claro, de uma diversa e rica programação cultural.

Teremos muito a fazer...

Importa para nós é reafirmar mais uma vez o papel e o compromisso histórico do CBCE com a qualidade social do ensino, da formação, da prática profissional e do fazer científico no campo da Educação Física e Ciências do Esporte.

Portanto, neste ano que o CBCE completa seus 35 anos, estamos nos preparando para uma verdadeira festa da ciência... Estão todos convidados.

As inscrições já estão abertas.
Participe!

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

O ouro olímpico

Nesta última terça, 15/1, ao abrir a edição 4645 do Jornal da Ciência - JC E-Mail, me chamou atenção o título de uma notícia, restrição ao uso da palavra "olimpíadas" causa espanto e indignação.

Antes mesmo de ler seu conteúdo, foi possível imaginar o que estava acontecendo... 

O COB questionou a Unicamp pelo suposto uso indevido da palavra "olimpíada" na organização da Olimpíada Nacional em História do Brasil.

Vale lembrar que já são organizadas várias olimpíadas científicas no país - matemática, ciências, língua portuguesa, química, astronomia etc, todas com abrangência nacional. Tais competições visam divulgar e estimular o interesse da juventude pelas atividades científicas, e estão totalmente integradas ao Sistema Nacional de CT&I, contando inclusive com editais de fomento da CAPES e CNPq para a sua realização. 

A reação, como a própria chamada da notícia destaca, foi de espanto e indignação por parte da comunidade científica. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SBPC e a Academia Brasileira de Ciências - ABC se manifestaram em carta encaminhada ao Nuzman, classificando como despropositada a proibição do COB.

Ambas instituições argumentam que as olimpíadas científicas ocorrem a anos no Brasil e que a palavra é também usada internacionalmente para designar competições científicas como a International Mathematical Olympiad, Math Olympids for Elementray and Midde Schools, The British Mathematical Olympiad Sibtrust e Science Olympiad.

Este recurso de intimidação por parte do COB não é caso isolado. Em 2010, a professora Katia Rubio, da USP, também foi notificada pelo Comitê, que determinava o recolhimento de seu livro Esporte, Educação e Valores Olímpicos. A acusação foi de uso indevido da palavra "olímpicos" e dos cinco anéis estilizados na capa do livro.  

O argumento do COB é de que ao passo que se aproximam os Jogos Rio 2016, cresce o interesse pela associação de produtos e serviços ao evento. Assim, é dever da instituição defender e salvaguardar a proteção das marcas, símbolos e expressões olímpicas, todas de propriedade do Comitê Olímpico Internacional.

O fato é que desde a revisão da Carta Olímpica de 1991, o COI tratou de centralizar a comercialização da propriedade intelectual e direitos de imagem do Movimento Olímpico, o que envolve, obviamente, a exploração comercial dos Jogos, transformados num espetáculo produzido a partir de complexos projetos de marketing. 

A Carta diz:

"Os Jogos Olímpicos são de propriedade exclusiva do COI, que possui todos os direitos relacionados com eles, especialmente, e sem restrições, os relativos a sua organização, exploração, difusão, registro, representação, reprodução, acesso e disseminação sob qualquer forma e por quaisquer meios e mecanismos existentes na atualidade ou que sejam desenvolvidos no futuro."

E são os comitês olímpicos nacionais os responsáveis perante o COI de fazer cumprir em seu país o que está dito na Carta, obtendo a proteção jurídica necessária para aquilo que reclama como sendo seu, o monopólio dos Jogos.

O COB vem fazendo direitinho o seu dever de casa...

Para questionar as Olimpíadas científicas, apelou para um extenso aparato legal, a Lei 9.279/96 - Lei da Propriedade Industrial, a Lei 9.615/98 - Lei Pelé, Lei 9.610/98 - Lei de Direitos Autorais, a Lei 8.078/90 - Código de Defesa do Consumidor e a Lei 12.035/2009 - Ato Olímpico, isto sem falar do Tratado de Nairóbi, que se refere à proteção dos símbolos olímpicos e do qual o Brasil é signatário, posição ratificada pelo Decreto-Lei 90.129/84

Até eu que não sou doutor advogado, ao ler o conjunto desta legislação, pude perceber que o COB força a barra na interpretação, ou seja, em nenhuma das leis está explícita sua propriedade ou exclusivo direito de utilização dos termos "olimpíada" e "olímpicos".

De todo modo, frente à repercussão negativa da medida - vejam matéria da Folha de S. Paulo, o Comitê já voltou atrás. Ontem mesmo, 17/1, o JC e-mail 4647 informou que, em nota, o COB esclareceu que a notificação enviada a Unicamp tinha apenas um caráter educativo e que estuda autorizar o uso do termo "olimpíada" para fins educacionais.

Arrependido é que o Nuzman não está. Com toda certeza vai continuar a fazer das suas... 
A pedagogia do COB e do COI é a intimidação, tudo para proteger sua galinha dos ovos de ouro, o monopólio sobre o comércio dos Jogos Olímpicos. 

Lamentável!

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A revolta das águas


Em 1988, eu fazia seleção para ingresso no curso de educação física da UFJF. Como a maioria dos jovens que optam pela formação em educação física, cuja motivação e interesse pelo curso se explicam por sua experiência com os esportes e outras práticas corporais, eu projetava naquela opção o prolongamento da minha experiência com a natação. 

Desde então, passaram-se quase 25 anos...

No início, nadava na faculdade e, mais tarde, além de árbitro federado, cheguei a trabalhar à beira da piscina. Mas já faz tempo que abandonei a natação e hoje ela só existe para mim como prática de lazer. O fato é que as bifurcações da vida trataram de me trazer para um outro espaço de intervenção profissional.

Mas se eu deixei a natação, tem muita gente que não... que bom! 

Agora tem um sujeito em particular que parece gostar muito da natação, ou do que a natação vem lhe garantindo, Coaracy Nunes Filho, presidente da CBDA, a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos

Desde o mesmo ano de 1988, Coaracy está mumificado à frente do posto. É o cartola mais longevo do esporte nacional, superando Nuzman, Steinhilber e companhia ilimitada... e, pasmem, deve ser reeleito em março próximo, perpetuando-se no poder até 2017. 

"Há [25] anos, eu me casei com a CBDA. Não poderia ter feito um bom trabalho se não tivesse ficado esse tempo. Estou com a consciência tranquila. Se (o mandato) é longevo, não interessa. O que importa é a qualidade da gestão", justifica em entrevista ao portal Lancenet.

Foi a partir da leitura do Blog do José Cruz que me senti estimulado a escrever este post.

A natação brasileira tem uma grande número de adeptos e já produziu bons resultados em termos de alto rendimento. Consta, inclusive, como modalidade vital nas apostas do COB para os Jogos Rio 2016, isto é, no Plano Time Brasil

Mas penso que a popularidade e os resultados da natação se devam à própria tradição do esporte, cuja primeira medalha veio em Helsinque 1952, um bronze conquistado por Tesuo Okamoto.

Atualmente, tem contado a favor da natação o incremento obtido a partir do patrocínio dos Correios.

É sobre isso que Cruz escreveu, sobre os R$ 158 milhões de patrocínio dos Correios repassados a CBDA nos últimos 20 anos. Fazendo as contas, é uma média de R$ 7,5 milhões/ano ou R$ 626 mil por mês.

Não é bom iniciar o ano falando de coisa ruim, mas como encerrei 2012 pedindo democracia e transparência na gestão do esporte brasileiro, não custa registrar que minha carta ao Papai Noel ou foi extraviada pelos Correios ou não encontrou nem padrinho e nem madrinha. 

De todo modo, a partir da leitura do blog do Cruz fiquei sabendo de duas boas notícias.

A primeira é que já dá para acionar a Lei da Transparência para termos acesso aquilo que sempre foi uma caixa-preta, as informações referentes aos contratos de patrocínio das estatais ao esporte nacional. Isto pode ajudar batante nas pesquisas que envolvem a temática das políticas públicas de esporte e lazer.

Neste caso, os contratos dos Correios com a CBDA foram solicitados e analisados pelo ex-nadador Julian Romero, e várias irregularidades foram apontadas quanto à sua execução.

A segunda boa notícia é que Julian, irmão do também ex-nadador Rogério Romero, lidera um movimento de oposição à gestão de Coaracy, o Muda CBDA, movimento que conta com outros ex-nadadores e técnicos como Eduardo Fischer, Carolina Moncorvo, João Reynaldo Nikita e Rodrigo Rocha Castro.

Tomei emprestado em programa da ESPN sobre este movimento o título para esta postagem, a revolta das águas.  

O movimento chegou a formar uma chapa de oposição para as eleições que ocorrem em março, mas teve o seu registro indeferido. Havia a necessidade de que a chapa obtivesse previamente o apoio formal de pelo menos cinco federações estaduais para o direito de se candidatar, uma cláusula de barreira imposta pelo Regimento Interno da Assembleia Geral da CBDA.

Ainda assim, é positiva a notícia de um movimento de ex-atletas e técnicos exigindo democracia e transparência na gestão do esporte.

O fato é que estatutos e regimentos da quase totalidade das entidades ligadas ao esporte - e o mesmo acontece com o CONFEF no mundo da educação física - inibem e dificultam ao máximo a organização de movimentos oposicionistas. Por isso, como é difícil que a mudança venha por dentro e de baixo, talvez seja necessária que ela venha de fora e por cima.

É preciso condicionar a liberação de recursos públicos - inclusive dos Correios - apenas para aquelas entidades esportivas que renovem suas diretorias e limitem os mandatos de seus dirigentes a apenas uma reeleição, este é um um desejo antigo dos setores progressistas do esporte brasileiro.

Muda CBDA! 
Muda esporte brasileiro!