As manifestações populares envolvendo a realização da Copa tendem a aumentar com a proximidade do evento ou você acredita que o brasileiro não está interessado na questão?
* Esta postagem reflete a quarta e última parte de entrevista que dei a Fernando Caulyt, da redação brasileira do Deutsche Welle
As manifestações populares envolvendo a realização da Copa no Brasil vêm sendo protagonizadas, principalmente, pela Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa, um movimento descentralizado a partir de comitês locais organizados nas doze cidades-sede.
A composição de cada comitê é reveladora dos segmentos da sociedade que estão mobilizados em torno do tema, em sua maioria, aqueles que vêm sendo atingidos pelas obras e ações de preparação para o evento, ou seja, as vítimas das violações de direitos promovidas em nome dos megaeventos.
No Rio de Janeiro, o Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas é um exemplo. Está organizado a partir da participação e mobilização de um conjunto de entidades, movimentos e lideranças - Associação dos Geógrafos Brasileiros, CORECON-RJ, CMP, Conselho Popular, ETTERN IPPUR/UFRJ, FAM Rio, FASE Rio de Janeiro, Frente Nacional dos Torcedores, IBASE, MNLM, MTST, MUCA, Núcleo Frei Tito, Observatório das Metrópoles, Ocupação Quilombo das Guerreiras, PACS, Redes da Maré, Reunindo Retalhos, Universitários da UFRJ, Vila Autódramo.
Mas, ainda que seja amplo e diverso, avalio que o movimento tem a sua centralidade na luta pela moradia. Segundo o dossiê Megaeventos e Violações de Direitos Humanos, estima-se o despejo e remoção de aproximadamente 170 mil pessoas nas doze cidades-sedes.
No Rio de Janeiro, o Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas é um exemplo. Está organizado a partir da participação e mobilização de um conjunto de entidades, movimentos e lideranças - Associação dos Geógrafos Brasileiros, CORECON-RJ, CMP, Conselho Popular, ETTERN IPPUR/UFRJ, FAM Rio, FASE Rio de Janeiro, Frente Nacional dos Torcedores, IBASE, MNLM, MTST, MUCA, Núcleo Frei Tito, Observatório das Metrópoles, Ocupação Quilombo das Guerreiras, PACS, Redes da Maré, Reunindo Retalhos, Universitários da UFRJ, Vila Autódramo.
Mas, ainda que seja amplo e diverso, avalio que o movimento tem a sua centralidade na luta pela moradia. Segundo o dossiê Megaeventos e Violações de Direitos Humanos, estima-se o despejo e remoção de aproximadamente 170 mil pessoas nas doze cidades-sedes.
Por sua vez, os setores ligados à comunidade
universitária e acadêmica - em especial, aqueles ligados ao urbanismo - conferem enorme potencial de ressonância às
manifestações e mobilizações, com a promoção de
debates, sistematização de documentos, produção de mídias etc.
Isto sem falar da proximidade e ligações que a os comitês possuem com partidos políticos da esquerda, pautando este debate com mais força nos espaços institucionais da política brasileira.
A própria candidatura do deputado estadual Marcelo Freixo pelo PSOL foi um exemplo. Pautou a organização dos megaeventos nas eleições municipais do Rio, polarizando a coalizão liderada pelo prefeito Eduardo Paes, cuja campanha esteve fortemente ancorada nas realizações envolvendo a preparação da cidade para a Copa e os Jogos Olímpicos.
Quero dizer com isso que a base dos comitês populares da Copa sustenta-se a partir de uma aliança entre luta pela moradia e universidade, marcada ainda pela ação e influência de quadros partidários, em especial, do PSOL, PSTU e PCB.
Isto sem falar da proximidade e ligações que a os comitês possuem com partidos políticos da esquerda, pautando este debate com mais força nos espaços institucionais da política brasileira.
A própria candidatura do deputado estadual Marcelo Freixo pelo PSOL foi um exemplo. Pautou a organização dos megaeventos nas eleições municipais do Rio, polarizando a coalizão liderada pelo prefeito Eduardo Paes, cuja campanha esteve fortemente ancorada nas realizações envolvendo a preparação da cidade para a Copa e os Jogos Olímpicos.
Quero dizer com isso que a base dos comitês populares da Copa sustenta-se a partir de uma aliança entre luta pela moradia e universidade, marcada ainda pela ação e influência de quadros partidários, em especial, do PSOL, PSTU e PCB.
Para ganhar adesão, tal movimento encontra limites... Por mais que exista uma série de
violações acontecendo contra os brasileiros mais pobres e vulneráveis, o brasileiro que integra a massa popular em emergência - ou a "nova classe média" da qual fala Marcio Pochmann - tem uma cabeça mercadológica, individualista e conformista. Em outros termos, o "brasileiro comum" não vai se engajar em movimentos pró, contra ou críticos a Copa.
Mas a ausência de movimentos de massa não significa indiferença ao que está acontecendo.
Segundo
pesquisa do IBOPE de 2011, na percepção da população, o Governo Federal será o
principal beneficiado com o a Copa de 2014, seguido de empresários do turismo e
redes hoteleiras. Depois são apontadas as prefeituras das cidades-sede,
governos estaduais, comerciantes em geral, empresários da construção civil,
times de futebol, CBF e FIFA como os principais beneficiados. E se sabe também
que os mais prejudicados com o evento serão os segmentos mais pobres das
cidades-sede.
Esta percepção que, em alguma medida, reflete uma leitura crítica, talvez cause constrangimento eleitoral aos partidos governistas nos pleitos pós-Copa e Jogos Olímpicos, quando melhor poderá se fazer o balanço dos legados prometidos.
Esta percepção que, em alguma medida, reflete uma leitura crítica, talvez cause constrangimento eleitoral aos partidos governistas nos pleitos pós-Copa e Jogos Olímpicos, quando melhor poderá se fazer o balanço dos legados prometidos.
Tudo isso para dizer que as manifestações vão sim aumentar, mas tendem a ser pontuais e protagonizadas, sobretudo, pela população atingida e pelos setores politicamente organizados da sociedade.
Neste cenário, alguns dos movimentos de atingidos pelos megaeventos tem conseguido resistir, sensibilizando a opinião pública, como é o caso da comunidade da Vila Autódromo, ameaçada de remoção, e os índios da Aldeia Maracanã, que lutam contra a demolição do antigo prédio do Museu do Indio.
Ainda que pontuais, a repercussão e visibilidade de tais movimentos têm causado embaraço ao Governo do Rio e à coalizão pró-megaeventos para seguir com seus projetos.
Assim, mesmo que não ganhe as massas, as manifestações populares envolvendo a realização da Copa ainda vão dar o que falar. Agora, se avançarem o sinal, colocando em risco a imagem e as marcas da Copa, desafiando frontalmente os interesses econômicos em jogo, as forças repressivas vão ser bastante intolerantes.
Foi o que já aconteceu em Porto Alegre, numa manifestação organizada em outubro do ano passado. Bastou a ameaça a um boneco gigante do Fuleco que a polícia reprimiu violentamente os manifestantes. Derrubaram o boneco, mas vinte foram parar no hospital.
Depois disso, um novo ataque ao Fuleco ocorreu aqui em Brasília. O tatu-bola foi esfaqueado na calada da noite. Agora o boneco só volta a aparecer em área particular e com segurança reforçada.
Apresento o caso do Fuleco apenas para ilustrar como as forças de segurança vão atuar na Copa e Jogos Olímpicos... Aliás, já abordei este tema em Polícia para quem precisa.
Afora a repressão, as manifestações e protestos contra a Copa terão de enfrentar também a blindagem da mídia e o cerco das zonas de exclusão previstas no contrato FIFA. Enfim, chutar o traseiro do Fuleco ou do Jérôme Valcke não vai ser fácil.
De todo modo, faço coro a todas as pautas e agenda dos comitês populares da Copa - paticipação, transparência, respeito e ampliação aos direitos, despejo zero, legado e políticas sociais de esporte e lazer etc.
Não à violação de direitos!
Sim ao direito à moradia, ao direito à cidade, ao direito ao esporte e à gestão democrática!
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